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Crie Jornadas. Não crie ilusões com diagramas e slides – Além dos Diagramas, um guia prático sobre EventStorming (Parte 1/5)

Atualizado: 18 de mai.



EventStorming - Curso de Ciência da Computação Unesp 2022.
EventStorming - Curso de Ciência da Computação Unesp 2022.


Introdução

Esse é o primeiro de uma série de cinco artigos sobre EventStorming, uma abordagem colaborativa e de baixa tecnologia que revela a verdade sobre a Arquitetura e a sua Organização.

O objetivo aqui é ser um guia prático, onde você vai encontrar minhas experiências em universidades, empresas, workshops e projetos complexos, nos quais tive a oportunidade de conduzir a abordagem de EventStorming.


Como começar com EventStorming ? Primeiro, avalie se a dor é real.

Antes de qualquer coisa, pare e reflita. Avalie se existem pontos de dor que precisam ser explorados com mais atenção.Para isso, sugiro um conjunto de questões em forma de heurísticas, que podem orientar e direcionar a escolha da dinâmica e da prática de arquitetura mais adequada para mapear disfunções e a falta de equilíbrio entre Arquitetura e Organização.

Abaixo, segue um checklist com 5 perguntas para avaliar a dor e a dificuldade real:



  1. Quem é responsável por cada etapa da jornada X ou Z? E quem decide o quê?

  2. Onde termina a responsabilidade do time A e começa a do B?

  3. Como garantir que nossas decisões não geram retrabalho, desalinhamento e perda de eficiência?

  4. Qual a carga cognitiva do Time X?

  5. Por que o problema XPTO ainda não foi resolvido, mesmo depois de tantas reuniões?



Se você respondeu a sim, a pelo menos uma dessas questões então isso indica que existe um problema e/ou "dor" que vai além da pilha de tecnologia, ou seja, é uma "dor" estrutural, de Topologia de Times e invisível.


Slides e Diagramas bonitos: A falsa promessa.

Ao longo dos anos – atuando na área de TI – participei de reuniões de alinhamento de arquitetura, conhecidas como "Revisão de Arquitetura". Em geral, posso dividir esses ritos em dois casos de uso:

  • Caso de Uso - O Arquiteto: Esse é o momento em que os Arquitetos levam diagramas — lindos, sem defeito, sem conflito, sem conexão com a realidade.

  • Caso de Uso - O Tech Lead: Em outros cenários, Tech Leads já levavam suas propostas com envolvimento do time.


Em ambos os casos, os desafios são imensos. Diagramas e slides bonitos o suficiente pra encantar e convencer. Mas, por outro lado, vazios o suficiente pra não contar a história real. Embora no segundo caso possamos observar um maior empoderamento do time, ainda falta um componente que é a habilidade cross de colaboração e comunicação.


Em resumo, nesses dois casos, surgem os desafios:

  • Silos invisíveis

  • Buracos na arquitetura

  • Lacunas organizacionais

  • Acoplamento de backlog invisível

  • Carga cognitiva


Além disso, mesmo com o rótulo de “reunião de alinhamento”, perdemos o essencial – a capacidade de envolver todas as pessoas em uma unidade coesa e com intenção estratégica. Complementar a esses problemas, outros efeitos colaterais podem ser observados, como por exemplo:

  • Diagramas mal projetados

  • Setas e caixas sobrepostas

  • Modelos caóticos e indecifráveis

  • Equipes imaturas

  • Pessoas de negócio que não entendem UML, C4 ou qualquer outra sintaxe


Assim como existem patterns linguísticos como o Well-Formed (WF), existe o seu anti-pattern, que eu chamo de Illusion-Formed: diagramas elegantes, muito bonitos, técnicos — e uma ilusão que engana e distrai. O estatístico George E. P. Box traz uma citação interessante para reforçar o contexto e a ideia central: "Todos os modelos estão errados, mas alguns são úteis."


Crie jornadas, não crie ilusões com diagramas e slides.

Resistência: Falta de maturidade e o medo de expor problemas e falhas

Um efeito colateral muito comum de surgir em reuniões de alinhamento é a resistência, imaturidade e incapacidade das pessoas de lidarem com novas abordagens e iniciativas, para protegerem suas Unidades de Negócios e modelos operacionais. Muitas vezes velados, esses problemas colaterais surgem como uma manifestação.


Ah... faz um Word com bullets que resolve.

E nesse momento é que percebemos que estamos voltando para a década de 90, modelando arquitetura em docs e planilha. E toda a evolução e escalabilidade acaba ficando para outro momento. Frequentemente costumo dizer:


Arquitetura ‘De Volta Para o Futuro’ — versão Windows XP Edition.

A partir desses desafios, foi assim que minha inquietação e preocupação me levaram a procurar por formas mais claras, mais reais e, principalmente, mais colaborativas para se entender sistemas complexos.

Em meados de 2020, descobri o EventStorming. Desde então, essa abordagem virou ferramenta recorrente em minha atuação — seja em cursos, workshops, universidades ou projetos corporativos de alto impacto e complexidade.


EventStorming: Uma abordagem de baixa tecnologia

EventStorming é uma abordagem desenvolvida por Alberto Brandolini e que tem sido amplamente utilizada pela comunidade de DDD como uma metodologia de baixa tecnologia para mapeamento de Eventos de Negócios. 


Durante o desenvolvimento de software, é muito comum nos depararmos com decisões sensíveis, como, por exemplo, Conta, Consumer, Pagamentos e Fraude, e perguntas como:

  • Quais as fronteiras entre Pagamentos e Fraude?

  • Essas Unidades de Negócio (BUs) são diferenciais para o negócio?

  • Qual a carga cognitiva que emerge dessas fronteiras?

  • Como podemos mapear essas jornadas?


Nesse sentido, o EventStorming é uma técnica de modelagem colaborativa que reforça a co-criação e que possui as seguintes propriedades:

  • Colaborativa

  • Intensa

  • Visual

  • Transparente

  • Fortemente honesta

  • Todo mundo participa (principais interessados)

  • Todo mundo entende — ou aprende a se entender

  • Áreas que não se falam são estimuladas a conversar

  • Os silos racham, as fronteiras ficam visíveis, e os pontos de frição aparecem.


Esse artigo é o ponto de partida. Nos próximos capítulos dessa série, você vai ver:

  • Como estruturar um workshop de EventStorming (do caos ao insight)

  • Dicas práticas para conduzir a dinâmica com diferentes perfis (inclusive os céticos)

  • Casos reais de aplicação: o que funcionou, o que deu ruim e o que surpreendeu

  • Como extrair valor arquitetural e organizacional da parede pós-workshop


Conclusão

Diagramas criam ilusão, e escondem a realidade. Slides e diagramas encantam e mentem. Mas apenas os post-its do EventStorming mostram aquilo que você tem medo de encarar: o caos organizacional e a falta de equilíbrio entre Arquitetura de Software e Arquitetura Organizacional.

Apenas com técnicas como o EventStorming é que conseguimos encarar o caos e então começar a efetivamente transformar – dores em oportunidades.

 
 
 

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