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A Figueira-Mata-Pau e a Arquitetura de Software

Atualizado: 4 de set.


Figura bacuri sendo estrangulado pela figueira-mata-pau (Foto: Erik Aceiro Antonio, Rio Grande do Sul, Pantanal)
Figura bacuri sendo estrangulado pela figueira-mata-pau (Foto: Erik Aceiro Antonio, Rio Grande do Sul, Pantanal)

O padrão conhecido como Strangler Fig Pattern foi introduzido por Martin Fowler (2004) a partir da metáfora da figueira-estranguladora. Fowler utiliza esse exemplo da natureza para explicar como modernizar sistemas legados de forma incremental: em vez de reescrever toda a aplicação de uma vez, constrói-se a nova solução ao redor da antiga, até que o sistema original possa ser gradualmente substituído sem um grande big bang rewrite.


A realidade do Brasil é um pouco diferente. se olharmos para o Pantanal brasileiro, podemos observar novos significados. No Pantanal, a figueira-mata-pau se desenvolve com frequência sobre o bacuri, uma árvore robusta, de copa ampla e galhos altos. Aves como tucanos e araras pousam no bacuri, alimentam-se e, nesse processo, dispersam sementes de figueiras em seus galhos. As sementes germinam como epífitas, descem ao solo em busca de nutrientes e, pouco a pouco, envolvem a árvore hospedeira. O bacuri, antes base e sustentação, cede lugar à figueira, que assume o espaço e se adapta melhor ao ambiente externo.


Essa dinâmica ilustra um processo lento, gradual e dependente de múltiplos fatores — clima, nutrientes e a própria força de resistência da árvore hospedeira. A analogia, quando estendida para além do software e da visão técnica ou tática – muitas vezes prezo aos padrões táticos de DDD –, nos ajuda a enxergar como organizações e arquiteturas sociotécnicas também se transformam e se adaptam.


Aplicações legadas e monolíticas se comportam como o bacuri: rígidas, enraizadas e difíceis de adaptar. A figueira, por sua vez, representa novas práticas e capacidades organizacionais, impulsionadas por “polinizadores” — aqui, Times de Plataforma e Enabling Teams, que promovem inovação e viabilizam a transição. Com o tempo, uma nova árvore surge: um novo software e um novo modelo organizacional, capazes de se adaptar ao ambiente em constante mudança.


Dessa forma, além da dimensão tática, é fundamental observar também a dimensão estratégica e social da arquitetura sociotécnica. Reconhecer sinais que impactam o dimensionamento de um software, de um serviço ou de um produto é um atributo essencial, pois indica a capacidade de gerar valor sustentável a médio e longo prazo.


Por exemplo, imagine que se queira evoluir a arquitetura de antifraude de um monolito sistêmico responsável por controlar, gerenciar, auditar e fornecer painéis para validar ou invalidar determinados códigos OTP (One-Time Password). Esse monolito é mantido e gerenciado tanto pelo time de Segurança da Informação quanto pelo time de Antifraude e Cibersegurança. Existem duas opções em avaliação:

  1. Estrangular o monolito para uma nova arquitetura desenvolvida dentro de casa (home made).

  2. Migrar para uma arquitetura baseada em provedor/parceiro externo, integrando mecanismos que vão além do OTP (por exemplo, biometria, recursos de MFA adaptativo e padrões de segurança avançados como FIDO2, NIST e CISSP).

Essas duas opções funcionam como sementes, onde ambas podem germinar, evoluir, crescer e se adaptar em maior ou menor escala, dependendo da capacidade técnica e dos recursos envolvidos.


Nesse ponto, compreender que essa evolução envolve custo de oportunidade e uma avaliação de trade-offs é fundamental. É preciso considerar os principais ganhos e perdas a médio e longo prazo, sempre com o olhar voltado para o equilíbrio organizacional e sua capacidade de acomodar, da melhor forma possível, pessoas e tecnologia.


O mais importante, contudo, é garantir menor fricção para o consumidor, especialmente no momento em que ele precisa realizar uma autenticação de múltiplos fatores (MFA).


A Arquitetura de Valor é um meio, junto com a Figueira-Mata-Pau, para gerar resultado real através da estabilidade, do equilíbrio e evolução sustentável com foco em organização adaptável e software escalável.




FOWLER, Martin. Strangler Fig Application. Martin Fowler, 2004. Disponível em: https://martinfowler.com/bliki/StranglerFigApplication.html. Acesso em: 4 set. 2025.

 
 
 

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